Biografia de Allan Kardec

Allan Kardec

Em 03 de outubro de 1804, nascia em plena era napoleônica, na cidade de Lyon, Hippolite Léon Denizard Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo Allan Kardec. Ele era filho de um juiz, Jean Baptiste-Antoine Rivail, e sua mãe chamava-se Jeanne Duhamel.

Conta-se que o pai o iniciou com todo cuidado nas primeiras letras e o incentivou à leitura dos clássicos, já em tenra idade. Denizard Rivail sempre se mostrou muito interessado em ciências e em línguas. Após completar os primeiros estudos em Lyon, Denizard partiu para a Suíça, para completar seus estudos secundários na escola do célebre professor Pestalozzi, na cidade de Yverdun. Bem cedo o jovem de Lyon chama a atenção do mestre, que o coloca como seu auxiliar nos trabalhos acadêmicos que exercia, tendo algumas vezes substituído Pestalozzi na direção da escola, enquanto este empreendia alguma viagem de divulgação de sua metodologia de ensino ou era convidado para criar, em outras localidades, uma instituição nos moldes de Yverdun. Denizard também exercia com prazer o papel de professor, ensinando aos seus colegas as lições que aprendera. Ele, apesar de tão responsável, era visto como um jovem amável e espirituoso, mas muito disciplinado. Não há registros de que tenha sido mal-quisto em qualquer fase de seu período estudantil.

Denizard Rivail bacharelara-se em Letras e Ciências. Falava fluentemente vários idiomas. Após ser dispensado do serviço militar, resolve fundar, em Paris, uma escola nos moldes da de Yverdun, que foi chamada de Liceu Polimático. Ele estava empenhado no aperfeiçoamento pedagógico da educação francesa, e, por isso, escreveu vários livros no assunto, tendo sido premiado, em 1831, por seu trabalho, pela Academia Real de Arras. Por esta mesma época casa-se com a professora Amélie Gabrielle Boudet.

Quando tudo parecia ir bem, o sócio de Rivail, que era seus tios, leva o Liceu à ruína, por dissipar, no jogo, vastas somas. Nada restava a Rivail que pedir a liquidação do Instituto a que se dedicara com tanto amor. Com o dinheiro resultante da partilha, Rivail sofre um outro revés da sorte. Após ter aplicado o dinheiro na casa comercial de um de seus amigos, este logo abre falência, por realizar maus negócios, e Denizard se vê na constrangedora situação de nada mais ter.

Para poder sobreviver, Rivail se lança freneticamente a escrever livros didáticos e a trabalhar como contador de três firmas comerciais, o que lhe possibilitou, após o susto e o desespero iniciais, recuperar parte de seu antigo padrão de vida. Chegou a organizar, também, cursos de Física, Química, Astronomia e Anatomia Comparada que eram muito populares entre os jovens da época.

Depois de algum tempo, Denizard Rivail já tinha o necessário para viver com certo conforto e se dedicar ao ensino novamente.

Quase que paralelamente a estes acontecimentos na vida de Denizard Rivail, ocorre nos E.U.A um conjunto de fenômenos que deram início ao nascimento do moderno espiritismo (este termo, espiritismo, foi cunhado em 1857, por Rivail, para distinguir este movimento do de outras escolas espiritualistas). Trata-se dos fenômenos ocorridos em Hydesville, estado de New York, em 1848, na casa da família Fox, que era metodista, e, portanto, longe de ter qualquer queda ou interesse por fatos que poderíamos hoje chamar de paranormais. As fortes pancadas que começaram a ser violentamente ouvidas no quarto das irmãs Katherine e Margaretta e que se fizeram freqüentes por várias semanas levaram a primeira, então com nove anos, a desafiar "o batedor" a reproduzir as pancadas que ela mesma daria. A prontidão das respostas acabaria por marcar o início desse tipo de comunicação entre vivos e mortos (Enciclopédia Mirador-Britannica, p. 4171).

Por esta época, em Paris, estava em voga uma nova moda (como se dizia na época). Tratava-se das chamadas "mesas falantes" ou "mesas girantes", que consistia em se fazer perguntas ao redor de uma mesa ou outro móvel qualquer que respondia através de pancadas às perguntas formuladas. Isto era visto apenas como uma sutil e inexplicável diversão de salão, quando não era encarada como uma brincadeira ou embuste espirituoso. Mas havia quem levasse a sério tais coisas, pois muitas vezes as mesinhas davam respostas corretas sem que ninguém conseguisse provar o descobrir quem ou o que fazia as mesas responderem as questões. Convém notar que esta "moda" das mesinhas que giravam parecia ocorrer em todos os lugares e em vários países, num boom que dificilmente pode ser creditado ao acaso. Em 1854, Deinzard ouve falar pela primeira vez sobre tais "fenômenos", mas sua primeira atitude é a de ceticismo: "eu crerei quando vir, e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, dêem-me a permissão de não enxergar nisso mais que um conto para provocar o sono".


Por insistência dos amigos, Rivail presencia algumas das manifestações físicas das mesinhas. Depois da estranheza e da descrença inicial, Rivail começa a cogitar seriamente na validade de tais fenômenos. Eis o que ele nos relata: "De repente encontrava-me no meio de um fato esdrúxulo, contrário, à primeira vista, às leis da natureza, ocorrendo em presença de pessoas honradas e dignas de fé. Mas a idéia de uma mesa falante ainda não cabia em minha mente". E ainda: "Pela primeira vez pude testemunhar o fenômeno das mesas que giravam e pulavam em tais condições que dificilmente poderia se acreditar serem frutos de embuste ou frade (...) Minhas idéias longe estavam de terem sofrido uma modificação, mas em tudo aquilo que se sucedia devia haver uma explicação" (segundo Henri Sausse, in Allan Kardec, ed. Opus, 1982). Foi em 1855 que Rivail testemunha pela primeira vez o fenômeno das mesas girantes. Passa então a observar estes fatos; pesquisa-os cuidadosamente e, graças ao seu espírito de investigação, que sempre lhe fora peculiar, resiste a elaborar qualquer teoria preconcebida. Ele quer, a todo custo, descobrir as causas. Como disse Henri Sausse: "(...) Sua razão repele as revelações, somente aceita observações objetivas e controláveis. (...) Vários amigos que acompanhavam há cinco anos o estudo dos fenômenos, (...) colocam à sua disposição mais de cinqüenta cadernos, contendo as comunicações feitas pelos Espíritos (...). O estudo desses cadernos constituiu, para Rivail, o trabalho mais profundo e mais decisivo. Foi por esse estudo que ele se (...) convenceu da existência do mundo invisível e dos Espíritos."


Fonte: http://geocities.yahoo.com.br/carlos.guimaraes/Kardec.html


O fenômeno das "mesas girantes"

Experiências com as "mesas girantes", na Alemanha, em 1853

Em 1853, a Europa inteira voltava suas atenções para o fenômeno das chamadas "mesas girantes", considerado "o maior acontecimento do século", conforme Rev.mo Padre Ventura de Raulica, então o mais ilustre representante da teologia e da filosofia católicas.

Tendo como ponto de partida os EUA, os acontecimentos espantosos expandiam-se agora pelo mundo todo. Em toda parte havia referência às mesas fantásticas: table volante ou table tournante, para os franceses: table-moving, para os ingleses; tischrüeken, para os alemães.

Segundo artigos na imprensa da época, os fenômenos se realizavam tanto nos mais eminentes palácios, quanto nos mais humildes casebres.

Lamentavelmente, esses fenômenos, que na verdade ocorriam por iniciativa do plano espiritual objetivando confundir o materialismo vigente, constituíam para a maioria dos assistentes um passatempo como qualquer outro e ninguém se aprofundava no estudo da causa de tais manifestações absolutamente incomuns.

Foi em 1854 que o sr. Rivail ouviu falar pela primeira vez das mesas girantes, através de seu amigo Sr. Fortier, magnetizador com quem mantinha relações. Como verdadeiro homem de razão científica, respondeu somente acreditar depois de ver e entender as causas do mencionado fenômeno.

Em maio de 1855, convidado para assistir a uma reunião na casa da Sra. Plainemaison, presenciou, pela primeira vez, o fenômeno das mesas que giravam, saltavam, corriam e respondiam com pancadas às perguntas formuladas pelos assistentes presentes, "em condições tais" -diria mais tarde -"que não deixavam margem a qualquer dúvida".

A Codificação

Observada a veracidade dos fenômenos, Rivail raciocinou: "um efeito inteligente deve ter por causa uma força inteligente" Assim, embuído de seu caráter investigativo e criterioso, lançou-se à ingente tarefa de classificação das milhares de mensagens, o que constituiria, posteriormente, na codificação do Espiritismo.

Para isso, contou com o valioso concurso de três meninas que se tornaram as médiuns principais no trabalho de compilação de O Livro dos Espíritos: Caroline Baudin, Julie Baudin e Ruth Celine Japhet. As duas primeiras foram utilizadas para a concatenação da essência dos ensinos espíritas e a última para os esclarecimentos complementares.

Concluída a obra e ratificados todos os ensinamentos ali contidos, por sugestão dos Espíritos, Rivail recorreu a outros médiuns, estranhos ao primeiro grupo, dentre eles Japhet e Roustan, médiuns intuitivos; a senhora Canu, sonâmbula inconsciente; Canu, médium de incorporação; a sra. Leclerc, médium psicógrafa; a sra. Clement, médium psicógrafa e de incorporação; a sra. Pleinemaison, auditiva e inspirada; sra. Roger, clarividente e srta. Aline Carlotti, médium psicógrafa e de incorporação.

Nessa época, Allan Kardec contava 51 anos quando se dedicou à observação e estudo dos fenômenos espíritas, portanto, com maturidade e sem afetações. A sua própria reputação de homem probo e culto constituiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do Espiritismo.

Dois anos depois, em 1857, divulgava sob o pseudônimo de Allan Kardec O Livro dos Espíritos. Em 1858 iniciava a publicação da famosa Revue Spirite. Em 1861 dava a lume O Livro dos Médiuns. Em 1864 lançava O Evangelho segundo o Espiritismo; seguido de O Céu e o Inferno em 1865. Finalmente, em 1868 A Gênese Os Milagres e as Predições, completava o pentateuco do Espiritismo.

Ao fundar a Revista Espírita em 1858 e três meses depois a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec passa a ser o canalizador do movimento nascente, entrando em contato com escritores, pensadores, políticos, eclesiásticos, sábios, homens de todas as condições e de todos os países.

Através da Revista Espírita, "com incansável paciência e a fé esclarecida de um apóstolo seguro de sua missão, com toda a sua energia e talento de escritor, o grande Iniciador esforçou-se por consolar, satisfazer e instruir, abrindo às almas aflitas e torturadas as ridentes e doces perspectivas da vida supraterrestre," diria mais tarde o Sr. Paul Leymarie editor da revista.

Com o declínio dos fenômenos iniciais do espiritismo, o reducionismo da ciência preconceituosa e pouco elucidativa, a intransigência do clero dominante, além do trauma psico-social causado pelas duas grandes guerras mundiais, o espiritismo apagou-se na Europa para florescer em terras do Brasil, com todo seu vigor e de forma espontânea.

Em sua psicosfera pacífica, bem como na biotipia miscigenada de seu povo, a Espiritualidade Maior, responsável pela evolução planetária, sob a égide do próprio Cristo, encontrou em Terras do Cruzeiro, o ensejo necessário para a continuidade do processo de regeneração do gênero humano, através do restabelecimento do Cristianismo redivivo dos primeiros tempos, destituído de ritos desnecessários e improfícuos, hierarquias e dogmas obsoletos incompatíveis com a evolução inevitável do ser rumo ao glorioso destino que lhe é reservado.

Hyppolyte Leon Denizard Rivail, o missionário Allan Kardec, retornou ao plano espiritual, no dia 31 de março de 1869, entre 11 e 12 horas da manhã, ao atender um vistante que lhe pedia um exemplar de sua Revista Espírita. Repentinamente, a antiga enfermidade do coração, que há anos minava-lhe o organismo, libertou seu espírito generoso e sábio.

Insigne missionário do Alto, Kardec trouxe à humanidade a Terceira Revelação, única capaz de esclarecê-la com absoluta clareza e objetividade sobre seu excelso papel nos desígnios superiores que regem o universo.

No momento exato em que o homem começara a manipular poderosas energias que lhe escapam ao controle, ao mesmo tempo em que a filosofia e a própria religião descambam-se fragosamente para o materialismo, os Espíritos do Senhor manifestam-se para luminescer com novas luzes as sombras ainda espessas da consciência e do coração humano.

A obra mais sublime de Allan Kardec foi a reedificação da esperança de todos os infortunados e de todos os infelizes do mundo no amor de Jesus Cristo.
________
Obras Consultadas:
"Allan Kardec", Zêus Wantuil e Francisco Thiesen
Federação Espírita Brasileira - FEB
"As Mesas Girantes e o Espiritismo", Zêus Wantuil
Federação Espírita Brasileira - FEB
"A Vida de Allan Kardec para as Crianças", Clóvis Tavares
LAKE
"Biografia de Allan Kardec", Henri Sausse
Federação Espírita Brasileira - FEB
"Grandes Vultos do Espiritismo", Paulo Alves Godoy
Edições FEESP"
"Allan Kardec", José Cid


0 Responses